Forelsket

Do norueguês, a palavra é dessas que envolve em si um compilado de significados. Não é amor, não é paixão, é algo que mistura tudo e que é nada disso. É forelsket.

Maithê Prampero
3 min readFeb 26, 2024

Adoro conceitos que reúnem em uma palavra um conjunto de sentimentos. É o caso de Wanderlust (o desejo intenso de viajar) e Forelsket, palavra norueguesa que significa uma euforia frente à paixão, ou quase isso. A minha equivalente a estas seria saudade, que sei existir somente no português.

Saudade não é sentir falta. É mais que I miss you. É algo que também significa aperto no peito, dor, vontade de estar perto. E reúne em suas sete letras um conjunto imenso de sentir e pensar.

A primeira vez que me deparei com Forelsket foi interessante, porque a palavra me atravessou, chegou chegando. Fiquei com ela na cabeça por dias e dias, depois esqueci. Houve um momento em que queria muito lembrar, mas não vinha nada próximo à cabeça. Me senti triste por perdê-la. Tempos depois resgatei.

Um pouco como se apaixonar, não acontece todos os dias, nem com todas as bocas e corpos que provamos. Paixão não é sobre likes, sobre despir-se, ou sobre sacanagens trocadas em mensagens na madrugada. Paixão é mais sensação do que corpo. É alma, psique, é ciência. Paixão é o que move, é esperança.

É despir o seu eu, não sem medo, mas com mais coragem do que aflição. É sobre ser o Coragem, cão covarde. Você está com medo, mas consegue ir mesmo assim. Faz a piada, chama para um segundo encontro, arrisca dizer as palavras mágicas. Se permite, sem fazer ideia do que poderá assustar o outro. E quando acha que está indo bem, descobre que assustou, mas o outro fica. Porque a paixão também dá certo. E os pessimistas que reflitam, mas vale a pena.

Photo by Patrick Hendry on Unsplash

Tudo bem que dará errado mais vezes, mas se der certo uma vez, estará valendo. Repete-se a cafeteria amada, a roupa que trouxe conforto, as palavras de declaração para as pessoas queridas, mas quando quebra a cara, não quer repetir a paixão, não quer se expor novamente. Tudo bem se durar um certo tempo, faz parte voltar ao casulo para se costurar, mas eventualmente, volte, olhe para o mundo novamente. Se apaixone outra vez e outra vez.

Se estiver olhado para a palavra Forelsket agora, pela primeira vez, tente fechar os olhos e lembrar de quando sentiu algo assim. Se permita viver a euforia da iminente paixão. Vive-se a iminência da segunda-feira, da noite que será de menos horas do que o necessário, do atraso, da pontualidade. A iminência da morte é a vida.

Forelsket é palavra para sentir, viver, não para definir. Essa não cabe nem no dicionário, nem nas regras da linguística, só cabe mesmo no coração. Como deve ser.

Por favor, assistam Fleabag, é necessidade para ontem!

Gostou deste texto? Clique nas palminhas e siga meu perfil. Apoie escritoras brasileiras.

--

--