Nasceu chiclete na minha barriga

Maithê Prampero
3 min readJan 31, 2024

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Essa semana eu fiz tudo errado. Engoli o chiclete, porque nunca entendi o conceito de bala-chiclete. A gente morde e engole ou mastiga até perder o gosto e cospe. Em que momento a gente para de misturar ansiedade e saliva para buscar um saco preto?

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Se eu grudar meu chiclete na sua mesa e escrever com lápis grafite nossos nomes com um + e um = S2, você vai me dar bola? Se eu prender um cadeado na ponte em que todos prendem um cadeado, será que estarei fazendo simpatia para o Universo? Inclusive, é errado fazer simpatia para o Universo?

Essa semana fiz promessa para a Lua, depois me arrependi e tive medo de ela ficar com raiva. Tenho medo do Sol e da Lua, e da Terra, que eu sei exatamente não ser um astro plano. Tenho medo da gravidade, e do escuro. Das estrelas e dos planetas, porque nunca sei qual é o brilho que pisca. Estrelas piscam?

Ali ao longe, meio vermelho, é Marte? Meu Marte é em áries, e talvez por isso eu seja tão explosiva, impulsiva. É defeito ou qualidade? Eu acho que meu espelho só mostra defeitos, mas se eu te vir no reflexo, vou ver luzes e flores em todo o seu ser.

Eu já engoli chicletes e caroços de azeitona. Imagino se na minha barriga tem um pé de cada. Tive medo de nascer coisa da terra no meu corpo setenta por cento água, mas até hoje sigo bem. Só essa semana que me confundi e comi o chiclete com papel e tudo.

Deixei minha ansiedade dominar a semana. Comi beterraba, e depois achei que pudesse estar com câncer, porque fiz cocô rosa. Primeiro dei um google e pesquisei os sintomas de câncer de intestino e reto. Só alguns minutos após pensar em como dar uma má notícia para minha mãe, notei que havia almoçado e jantado uma salada de beterraba. Alívio. Ao mesmo tempo, a pergunta que sempre surge quando imaginamos a vida escorrendo pelos dedos: se fosse um câncer, o que eu faria agora? O que faria amanhã? Como aproveitaria o tempo?

Você seguiria a vida exatamente como ela está?

Não tive diagnóstico grave e ameaçador à vida, não chupei mais bala-chiclete. Comprei pirulito. Só percebi depois de trincar a bola rosa de açúcar que era um pirulito que virava chiclete.

Só tinha uma coisa a fazer: engolir. Torcer para que não minhas tripas não grudem, porque chiclete é cola potente.

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Essa semana fiz tudo errado. Engoli chiclete, fiz cocô rosa de beterraba, jantei pipoca, e voltei a tomar refrigerante. Semana que vem vou acertar mais, e errar muito, com certeza.

Eu estou no ponto em que gostaria de estar.

Desembrulhando o papel que encobre a vida. Colando meus pedaços internos, aproveitando o açúcar que vem das vivências e tentando acertar, da única forma possível, errando.

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